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    Deborah Almeida nasceu em Porto Alegre (1961). Escreve contos e crônicas, sendo que o livro O BANCO AMARELO DO ARPOADOR, uma breve história de amor, Editora Madrepérola/Londrina-PR, determina a estreia da escritora como romancista.

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Montanha

17 de março de 2019

Montanha

Eu subo a montanha, o ar gelado me faz lacrimejar. Subo sem parar. Não descanso. Procurando os olhos de Deus eu subo, eu subo e nada me faz desistir. As rochas estão congeladas e a neve enterra meus joelhos, mas a montanha me chama, e eu continuo a subir. Nas minhas mãos minhas velhas luvas e a neve que eu retiro pelo caminho. Trago uma pequena mochila nas costas, e só. A neve me cega. Apenas as recordações me guiam, e o céu está azul, azul cobalto como os olhos do meu amor. O silêncio me sustenta e a nossa música toca sem parar lá em cima, preciso chegar lá. Como você se sente agora? E eu subo, vencendo a neve sob os olhos misericordiosos de Deus. O vento assobia feliz e o frio corta minha pele. Poucas árvores ainda verdes e pequenos animais correm e se escondem de mim. A cidade ficando pequena e mal enxergo a torre da igreja, alguns carros ainda tentam invadir impiedosamente essa parte do mundo. Profanam com barulho onde apenas os anjos devem ser ouvidos. Eles estão assustados. Eu estou sozinha. Nem os anjos querem me acompanhar mais. A neve cada vez mais profunda. Meu fôlego reclama. Onde está você agora? Eu estou subindo. Uma pedra rolou perto de mim, parece ter desistido da montanha, resolveu se esconder no vale mais verde. Mas, meu caminho é bonito. O sol brilha ao meio do dia. Eu faço curvas na subida, nenhum destino é reto, a montanha ri de mim. Minhas costas se curvam, mas eu insisto. O azul do céu me magnetiza e me ergo com força para vencer as pedras e alguns galhos secos que teimam em me fazer cair. Meus pulmões crescem. Você pode me ouvir? Eu estou cantando baixinho aquela canção. Meus pés estão anestesiados. Não sei o que estou fazendo aqui. Fechei as janelas da minha vida. Abri meus olhos para os seus. Não sei o que me espera em cima. Seria você? Crianças brincam e mal ouço o que elas cantam naquela colina próxima. Estou longe de onde eu quero chegar. Você deve estar se perguntando o que estou procurando. Talvez a mim mesma. Nas ruas e nas estradas há fantasmas demais. Ninguém chega aqui. Eu vou conseguir, não se preocupe. Há uma pequena escarpa, parei para descansar, ainda tem água no meu cantil. Diamantes de gelo brilham sobre minha cabeça. Como uma tiara. Você diria que estou bonita agora. Meus pensamentos em você. Olho o mundo tão longe. Projeto a humanidade lá embaixo, sem ideais de destruição. Muita loucura, ninguém concorda com nada. Os oceanos de plástico e as florestas calvas. Esqueceram as montanhas. Talvez porque muito altas, temem a ira divina. Esses algozes não nos merecem, o mundo não é para eles. Você lembra dos órfãos e dos meninos? Eles não têm força para subir a montanha ainda. Circulam nas cidades vazias, a procura de nós. Eles apenas nos sentem. Tentamos despertar algumas pessoas. Elas não nos ouvem. Coloquei a mochila nas costas. Gostaria de ajuda para me erguer. Meu corpo está mais frágil. Mas Deus é onipresente e me empurra montanha acima como se quisesse descobrir meu destino antes de mim mesma. A natureza brilha e isso me faz jubilosa, sem as sombras que se agitam no meio das cidades. No frio branco da montanha lembro das charnecas africanas, onde nossos sonhos se constroem sob o sol dourado que brilha em nossos cabelos. Edificamos juntos nossos sonhos. Eu estou chegando amor. A montanha me encoraja, vou chegar em breve. As máquinas e a tecnologia, nada disso é sublime. Apenas o amor é celestial e real. Lembra aquele beijo quando estava nevando à noite? Tinha gosto de chá de hortelã gelado. Nossos beijos são de menta. Ardentes. A neve não é mais tão pesada. O topo está muito perto. Vou chegar lá, você me espera?

amorContomontanhaneveromance
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Conto

Deborah Almeida

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Comment


Marta Ortiz
19 de March de 2019 at 01:18
Reply

Texto sensível e envolvente!
Escrita que me encanta!



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    Deborah Almeida nasceu em Porto Alegre (1961). Escreve contos e crônicas, sendo que o livro O BANCO AMARELO DO ARPOADOR, uma breve história de amor, Editora Madrepérola/Londrina-PR, determina a estreia da escritora como romancista.

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