A Salsinha

Em uma hortinha bonita, ao pé do morro, morava um pé de salsinha ao lado de uma fileira de cenouras. Bem cedo, de manhazinha, vinha um menino, sobre os pés descalços e de chapéu de palha remexer a terra onde elas moravam.
O sol mal se levantava e lá vinha o menino, com uma enxada na mão e o cachorrinho ao lado. Eles conversavam e brincavam e, se a brincadeira se encompridava, a mãe do menino aparecia na janela da casa e apontava para as cenouras.

O menino obedecia e o cachorrinho sentava sobre as quatro patas ao lado da hortinha. O menino, então, limpava o mato e reparava todas verdurinhas que cresciam ali. Tinha couve, cebolinha e alface também.
Quando a mãe não estava olhando, o menino arrancava duas ou três cenourinhas do fundo da terra, espanava a sujeirinha com a mão e engolia as cenourinhas doces e crocantes. Ficava só com o talo e as folhas na mão.
Depois de limpar todo mato, afofar a terra e comer as cenourinhas escondido, o menino colhia a couve, a cebolinha e a alface que a mãe precisava para preparar o almoço.
Voltava para casa e deixava tudo em cima da mesa da cozinha e saía de novo com o cachorrinho para passear.
No pé de salsa ele nunca mexia e o pé de salsa estava cada dia mais murchinho, porque o menino não gostava do cheiro daquela erva e fazia de conta que ela não existia.
Quando voltou para o almoço, levou um susto quando a mãe dele ralhou com ele por causa do pé de salsa. Ela havia ido colher umas folhinhas e elas estavam todas murchas, quase mortas porque ninguém cuidava delas.

O menino, então, explicou que não gostava do cheiro e que era uma erva muito inútil e sem graça.
Foi, então, que a mãe disse a ele:
Você quer esquecer o gosto da minha comida? As salsinhas não são folhas robustas e nobres como as couves, não têm o colorido luminoso das cenouras, o aroma da cebolinha e, tão pouco são crocantes como as tenras folhas de alface.

São miúdas e frágeis. Entretanto, nenhum prato feito com couve, cenoura ou cebolinha fica bonito, sem um punhado de salsinhas por cima. Com a frágil salsinha você nunca fica gripado. Mas, o mais importante é que um dia você vai crescer, envelhecer e nunca vai esquecer o sabor da comida que sua mãe preparava porque era feito com carinho e com o verde da salsinha. E o menino sorriu. FIM