É um menino!
Para as mães, com todo meu carinho!
Decorridas algumas semanas de gravidez, é feito um ultrassom e o médico anuncia o sexo do bebê. Como se fosse um veredito. Você fica feliz ou não, dependendo das suas expectativas. Sim, porque os pais costumam construir muitas em relação aos filhos. Não basta ter boa saúde e estar com os cinco dedos em cada mãozinha. Filhos parecem revelar os seus genitores e, portanto, ao nascer acabam por carregar nos pequenos ombros o fardo do que se espera deles. Afinal, é tanta doação, tanto investimento, tantas noites em claro que parece loucura não vir nada em troca.
Surpresa! Filhos não são moedas de troca.
A criança cresce e os pais, que hoje costumam andar bem atrapalhados com a rotina, ainda têm que lidar com adolescentes rabugentos. Aquele pequeno ser engraçadinho, com cheirinho bom, que andava pra lá e pra cá sem discutir, se torna um impertinente cheio de espinhas e exigências. Eu fui mãe de dois adolescentes e, honestamente, não sinto muita saudade desse tempo. Tudo tinha um peso enorme para mim e não confio em quem me relate sobre adolescências de filhos sem surpresas, sem preocupações ou sem problemas. Ninguém dorme tranquilo, só depois que a chave faz barulho na fechadura. E isso pode demorar algumas horas. Muitas horas.
Em meio a esse burburinho, algumas mães (passo a tratar com as mães apenas por comungarem do mesmo universo que o meu) são surpreendidas com a revelação da homossexualidade dos filhos e filhas. Foi o que aconteceu comigo.
Minha primeira atitude foi abraçar meu filho. Eu abracei e beijei tão apertado, que sempre lembro daquele momento como um dos momentos mais bonitos e mais fortes na minha sagrada missão de mãe. Tive outros momentos muito intensos com meus filhos. Entretanto, escolhi contar sobre esse para que outras mães não percam essa oportunidade. Não percam a oportunidade de crescer com seus filhos e, ainda, de (re)pensar e de se afirmar como seres humanos que somos.
Essa revelação que ele me fez, com toda ansiedade do mundo, demonstrou a coragem e a dignidade que sempre esteve nele. Meu filho deveria ter 15 ou 16 anos, não mais que isso. Mas, estava ali, diante da mãe, morrendo de medo de decepcioná-la e assumindo o que jamais conseguiria ocultar.
Eu o respeitei demais por isso! Aliás, é bom lembrar, nossos filhos, também, merecem nosso respeito. Respeito pelas suas escolhas (se essas não prejudicarem ninguém, nem a eles mesmos) e respeito pelas suas individualidades. Combater as discriminações é indispensável para a construção de um país digno. Admitir violações aos direitos fundamentais da pessoa é enveredar aos limites da barbárie.
“As principais organizações internacionais de saúde (incluindo as de psicologia) afirmam que ser homossexual ou bissexual são características compatíveis com uma saúde mental e um ajustamento social completamente normais; tais instituições médicas também não recomendam que as pessoas tentem alterar a sua condição sexual, pois isto, além de ineficaz, pode causar danos psicológicos.[20][21] Em 1973, a homossexualidade deixou de ser classificada como um transtorno, quando foi excluída do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) da Associação Americana de Psiquiatria. Em 1975, a Associação Americana de Psicologia adotou o mesmo procedimento.[22] No Brasil, em 1984, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) posicionou-se contra a discriminação e considerou a homossexualidade algo que não prejudica a sociedade.[23] Em 1985, a ABP foi seguida pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), que deixou de considerar a homossexualidade um desvio sexual e, em 1999, estabeleceu regras para a atuação dos psicólogos em relação às questões de orientação sexual, declarando que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão” e que os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham terapias de reorientação sexual.[24][25] No dia 17 de maio de 1990, a Assembleia-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais, a Classificação Internacional de Doenças (CID), data que passou a ser celebrada como o Dia Internacional contra a Homofobia.[22][25] Por fim, em 1991, a Anistia Internacional passou a considerar a discriminação contra homossexuais uma violação aos direitos humanos.”
(Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Homossexualidade#Artigos_de_jornais)
– grifos no original –
As pessoas são o que são e ponto. Ninguém escolhe ser ou não ser gay, ser ou não ser hétero. De qualquer forma, ouso afirmar que o gay “fora do armário” adora e sente muito orgulho de ser gay. Aposto minhas duas mãos nisso. Aliás, o orgulho gay me encanta. Eles evidenciam o que é ter amor próprio. Do ponto de vista hétero, essa vulnerabilidade, que eu referi, isto é, de não ser uma “opção”, talvez seja o que abale tanto. Pode ser que a ausência de controle seja um dos alicerces de tanto preconceito. O desconhecimento, a arrogância, a violência e a insensatez contribuem, ainda mais, para que esse sentimento hediondo seja disseminado. Meu susto foi justamente esse, o preconceito. Morria de medo que meu filho sofresse por isso. Levei tempo para me dar conta que lidar com isso naturalmente e com coragem significa aceitar, de forma inabalável, o que ele havia me revelado.
Apesar de conviver com amigos gays desde sempre, fui entender o que significa, de fato, a palavra preconceito quando encarei, de verdade, com meu filho. Quando essa causa passou a ser minha e quando me escutei dizendo a ele que o que importa é amar e ser amado. É mais simples do que parece. A insegurança é que desqualifica e desonra. Quem apenas tolera não aceita. É preciso um pouco mais de empatia para chegarmos em um estágio mínimo de civilização.
Meu testemunho diz a vocês, que ele só fez e faz boas escolhas. Eu sou apaixonada pelos meus meninos. Os sonhos que tenho para meu filho gay, são os mesmos que tenho para meu filho hétero: sucesso profissional, bom casamento, saúde, filhos e vida tranquila.
A comunidade LGBT não vai deixar de existir porque pessoas não gostam ou se sentem desrespeitadas por ela. Sustentar a bandeira linda do arco-íris na parada gay não é uma afronta. É um ato de coragem e de resistência. Uma minoria que conseguiu, apesar de todos os enfrentamentos, a legitimidade para buscar a paz, a igualdade e o direito pleno de cidadania. Graças a esse movimento, muitos países admitem o casamento gay, a adoção por casais homossexuais e outros direitos.
Uma sociedade que pretende construir-se com ordem deve começar a rever seus padrões dentro do seu próprio teto. Nossas casas formam o núcleo de uma sociedade que se pretende sadia. Estamos no século XXI em que, há muito, a família tradicional de papai, mamãe e filhinho não é mais o que se entende por genérico. Há mães e pais sozinhos lutando pelo desenvolvimento dos seus filhos, há mães e pais sozinhos dando um duro danado para que seus filhos se tornem vencedores, aptos e seguros para enfrentar um mundo hostil e severo. Os filhos são nossas melhores lembranças, são as pessoas que nos mantém vivos, mesmo depois que fechamos os olhos para sempre.
Respeite-os e descubra com eles o quanto a vida pode ser melhor, mais colorida, mais alegre e mais leve.
–Esse texto foi publicado após leitura e aprovação dos meus filhos.-
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