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    Deborah Almeida nasceu em Porto Alegre (1961). Escreve contos e crônicas, sendo que o livro O BANCO AMARELO DO ARPOADOR, uma breve história de amor, Editora Madrepérola/Londrina-PR, determina a estreia da escritora como romancista.

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A Sauna

13 de outubro de 2022

„A Sauna“

(versão germânica)

Todos nós temos preferências ou hobbies que nos proporcionam algum tipo de prazer ou mero relaxamento. Meu marido adora relaxar numa sauna. Desde que nos conhecemos ele tentava, sem sucesso, me seduzir para acompanhá-lo a um banho público alemão.

Na Alemanha existem o que eles chamam de Schwimmbad, que são banhos públicos pagos com piscinas térmicas, que muitas vezes oferecem saunas de todos os tipos: seca, úmida, com muito vapor, com pouco vapor, com cheiro de canela, com música, sem música, com luzes coloridas, com jato de água, com cheiro de limão e outras tantas que não lembro. Perfeito seria não fosse por um pequeno e constrangedor detalhe: nas saunas da Alemanha é proibido entrar com roupas! Isso mesmo…a regra é todo mundo pelado, no máximo um roupão, que não demora muito para ficar encharcado se o desavisado teimar em se esconder dentro dele.

Como meu marido é teimoso demais, me convenceu e prometeu relaxamento com saúde.

É sabido, que na Alemanha vinga esse conceito do respeito ao próprio corpo, no sentido de aceitação e não-sexualização. Existem inúmeras praias, lagos, parques e clubes em que as pessoas se sentem completamente à vontade com o nudismo. Já vi famílias inteiras curtindo a natureza sem se preocupar com limitações estéticas ou de natureza moral. Tudo muito normal. Difícil foi para mim, nascida no país em que o corpo é mais sensualizado e – hipocritamente – vislumbrado como algo imoral, me despir (literalmente) desses preconceitos. Desnudar os seios no Brasil só na passarela da Sapucaí, nem um centímetro a mais. Mais alguns quilômetros dali, em Copacabana, é totalmente proibido! Bem complicado explicar isso para um forasteiro do bem como meu marido.

Enfim, topei o desafio!

Chegamos num empreendimento mega equipado, novinho em folha. Chamou minha atenção um complexo empresarial tão grande em meio a cidadezinhas tão pequenas, às margens do Reno. Mas, o povo alemão ama isso! Meu filho já havia me apresentado em Munique uma Schwimmbad belíssima de quase 100 anos, com uma decoração nas paredes e no teto de tirar o fôlego. Mas não, não fizemos sauna na Baviera, apenas nadamos duas vezes trajados com roupas de banho.

Bem, o estacionamento da dita sauna das Rheinlands estava lotado, o que me deu uma vontade irresistível de desistir. Meu marido olhava para mim e sorria. Ele é muito calmo e teve uma paciência franciscana comigo. Nunca quis me forçar e estava todo feliz em me proporcionar essa „aventura“.

Chegando no lugar, já na entrada nos deram pulseiras de identificação, dois pares de chinelos novos de plástico transparente e dois alvos e limpíssimos roupões. O preço foi salgado, mas nem ousei divergir. Dali, fomos aos vestiários onde tínhamos à disposição armários com chaves e secadores de cabelos (contei uns 30 instalados, só em um dos vestiários). No meio dessa sala, bancos enormes onde era possível colocar as bolsas e nossos pertences. No caminho, contei uns cinco vestiários como esse cada um com armários do chão ao teto. Entro no detalhe para se ter ideia da dimensão do lugar. Em cada um desses vestiários havia pessoas, obviamente, completamente nuas, com ou sem toalha, passando creme no corpo, se penteando, procurando pertences, todos como vieram ao mundo. Nesse instante eu soltei um pedido de socorro: „vamos para casa agora“!

Meu marido: „calma, olha só, não tem ninguém aqui, vamos trocar de roupa…“ e se atirou no próximo vestiário.

„vamos tirar a roupa né, você quer dizer..“

Ele ficou pelado em 1 min e na minha cabeça as pessoas passavam por ali e viam meu marido todinho! Num pulo agarrei uma toalha e tapei as partes pudendas dele. Ele não me levou a sério e roubou a toalha.

Ele: Schatz (querida, em alemão)! Quem está olhando para mim ou para você? Ninguém! Tira essa roupa logo e veste o roupão.

Obedeci e já passava mal. Aquele lugar com cheiro de piscina e sauna me dava falta de ar.

Meu marido me pegou pela mão como criança dengosa, que não quer ir à escola. Entramos na primeira sauna, a seca. Tinha um homem deitado de costas, que mais parecia morto e mais dois no maior papo. Não deram a menor confiança para nós embora estranhassem a “louca do roupão”. O tal do semimorto virou a cabeça para nós e fez uma cara de desprezo pro meu roupão. Voltou a adormecer naquele estado. O calor era tanto que, em poucos segundos, me vi obrigada a tirar o roupão, sem olhar para a cara daquelas pessoas, que o marido insistia em conversar. Creio que ficamos 15 minutos ali e eu quase com torcicolo de ficar olhando direto na pequena janela que dava pro jardim. Nem pensar em olhar ou falar com alguém. Já estava „satisfeita“ com a experiência.

Meu marido me parabenizou, me puxou dali sem me dar tempo de vestir o roupão e não satisfeito sentenciou: “piscina!!

“ O quê?!”

“Vamos, tomar uma ducha e tchibum na piscina! Vem logo!”

Nessas alturas, eu já cogitava sobre o divórcio por incompatibilidade cultural.

Põe roupão, tira roupão e claro, a ducha é um montão de chuveiros fortes, modernos e maravilhosos, com água quente ou fria, um ao lado do outro…que tal? Pensei que todo mundo era doido.

Tomei a tal ducha e ouvia em estado de choque as conversas cotidianas trocadas por meus vizinhos de chuveiro.  Se me pedissem xampu emprestado acho que ficaria furiosa. E bla bla bla bla …. Não paravam de falar. A senhora da ponta ainda falou qualquer coisa para os meninos perto de mim e riam os três sabe lá o porquê. Enquanto isso, meu marido bem tranquilo, feliz da vida, num chuveiro em frente, cheio de espuma na cabeça, nem aí pra mim. Misericórdia!

Depois disso, subitamente, claro que perdi a vergonha; até a que eu não tinha! Era isso ou isso. Simples assim.

Ninguém, ninguém se importa! Fiquei, ao final, me sentindo ridícula. As pessoas são tão mais superiores que isso! Nadamos, entramos nas jacuzzis, fomos a outras tantas saunas que, por sinal, me apaixonei pela sauna com perfume de canela! Relaxei legal quando, depois de todo sofrimento, percebi que absolutamente todos, homens e mulheres, velhos e jovens, buscavam ali, tão somente o bem-estar. Respeito mútuo na enésima potência! Respeito próprio, maior ainda. Gordos, magros, altas, baixos, velhos, moças, todos sem culpa. Aceitar o próprio corpo é sinal de muito amor próprio. Danem-se as celulites e flacidez! Viva a diferença e a liberdade! Benditos sejam nossos corpos saudáveis!

Relatei ao meu filho, que mora há dez anos na Alemanha nossa ida à sauna e ele ficou feliz. Ele adora quando eu me livro de grilhões opressores e me torno um ser humano mais livre.

Essa é a cultura de outro país, cultura que me agrada e respeito demais por tantos motivos que não cabe aqui enumerar todos e que me faz sentir privilegiada de poder usufruir.

A Alemanha, em tempos de Covid e negacionismo brasileiro, me prorrogou o visto até que eu pudesse tomar as duas doses da vacina.

Só voltamos ao Brasil depois de protegidos. Fomos para lá, primeiro, porque podíamos entrar apesar da pandemia e segundo porque tive pânico, adoeci pelo medo da doença e terceiro porque nossos filhos exigiram. Sou super grata por isso e mais um pouco! Posso afirmar que a Alemanha há muito me modificou, pelos quase dez anos que vou e volto.

Esse país não é o meu país, sou brasileiríssima, mas tenho profundamente na alma essa Heimat (palavra alemã, que expressa o sentimento de lar), que me faz chorar cada vez que o avião abandona o solo alemão. Choro muito mesmo. Choro de saudade do meu filho, do meu sogro, dos meus enteados, dos amigos e daquela terra maravilhosa e linda, que me seduz sempre. Não é por coincidência que escrevo essa crônica a bordo do voo 705 da KLM para o Rio de Janeiro em 11 de outubro de 2022, 15h46 min horário local, 10h46 min horário de destino.

Meu marido e eu temos superado diariamente nossos conflitos culturais, fora os outros normais que se espera de qualquer casal. O somatório disso resulta num coquetel de informações e trocas, que nos mantém ativos e nunca entediados.

Ele, por sua vez, ama o Brasil e nosso jeito estranho e encantador de receber as pessoas, de desejar „boa praia“  aos amigos, de cantar e de comer farofa e, claro, beber cerveja com prazer. Ele não se deu conta ainda, que acabamos por perder esse nosso jeito tão doce, típico do povo brasileiro. Para ele, o Brasil é maior do que qualquer política ou político sem noção. Não perde a poesia.

Deixo, então, uma amostra aqui dessa experiência muito mais emblemática do que cômica para passar a quem interessar a nossa pequena, simples e leal versão de transmitir amor: viver e deixar viver!

Direitos autorais reservados.

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Deborah Almeida

2 Comments


Paul Malin
21 de August de 2023 at 21:57
Reply

A idade média e o paraíso se cruzam no meio do oceano, em um avião.



    Deborah Almeida
    20 de September de 2023 at 22:15
    Reply

    kkkkkkkkk

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